As Obras de Deus são um meio de santificação para o discípulo de Cristo. Deus ama as obras, e pode-se constatar o Seu amor pelo homem nas diferentes obras que empreendeu, como na Obra da Criação, da Revelação, da Encarnação e da Redenção. Deus ama as obras e por meio do seu Filho continua a comunicar aos homens as suas graças, a fim de atrai-los para a verdade e para a vida. Nos Evangelhos temos os relatos de Jesus realizando inúmeras obras, pois como diz São João:
O apostolado empreendido por Jesus não terminou com sua morte, mas por sua morte foi entregue a sua Igreja na cruz (CIC 766), para que ela continue no tempo e na história, a manifestar ao mundo e aos homens o seu amor misericordioso. Agora os discípulos devem dar continuidade ao apostolado de Jesus, tendo os constituído dispensadores das suas graças, continuadores das suas obras e participantes da sua glória.
De certo modo, muitos são os areópagos que precisam da presença da Igreja, do anúncio do Evangelho da salvação. Diante de um mundo contemporâneo marcado pelo relativismo, individualismo, materialismo, hedonismo, marxismo e tantas outras ideologias que conduzem o homem para uma vida sem Deus. Como a Igreja deve viver seu apostolado de modo que atraia e converta as almas para Deus?
Não se pode pensar em um apostolado que prescinda de Deus. O homem quando se torna o centro da ação evangelizadora, com suas ideias, ações criativas e atitudes marcadamente egocêntricas, ilude-se. Afinal, jamais será capaz de dar fecundidade as obras a partir do seu mero esforço, consentir isso seria uma heresia. Pois o homem não é capaz de produzir a fé, de fazer cessar o pecado, de conduzir a virtudes, de reconduzir as ovelhas perdidas para o aprisco, sem que o auxílio da graça divina que emana de Cristo, venha em seu socorro. Cristo é a Fonte única de todas as graças! É preciso compreender que a Encarnação e a Revelação divina exprimem de modo único Jesus Cristo como única fonte da vida divina, da qual todos os homens são convidados a participar. Todas as coisas foram feitas por Deus por meio do seu filho, nada foi feito sem Ele (Jo 1, 3), tanto a ordem natural quanto a ordem sobrenatural.
Há de se recordar as palavras de Jesus aos seus apóstolos quando diz:
Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância
Jo 10, 10
Por isso, para os discípulos de Cristo desempenharem sua missão devem antes ser enxertados neste Homem-Deus, para serem capazes de comunica-lo aos homens. Comunicar a vida divina é uma ação exclusiva de Deus, que se realiza por meio daqueles que são colaboradores do Senhor, tornando-se assim apenas um simples canal por onde a graça de Deus passa, a fim de chegar aos homens pois:
Sem mim, nada podeis fazer
Jo 15, 5
O discípulo da vinha do Senhor deve tomar consciência de que todas as suas ações por mais bem-intencionadas que sejam, não produzem o mínimo de vida sobrenatural, se não estiver unido a videira. Jesus é fonte da qual procede toda a vida divina, e ignorar esta verdade achando que se pode transmitir às almas a vida divina com as próprias forças, constitui um erro gravíssimo.
A vivência de uma autêntica vida cristã, por meio da oração, da penitência, dos sacramentos e da Sagrada Liturgia, desenvolve a vida interior, permitindo seu crescimento e desenvolvimento na união com Deus. E ainda deve ser ressaltado que:
O discípulo de Cristo que deseja ter sucesso em suas obras de apostolado deve considerar que o essencial e necessário é que sua alma seja enriquecida de virtudes e graças espirituais, para que o povo de Deus possa saciar-se (Jer 31, 14). O Verbo Encarnado é o fundamento da vida interior do cristão, e a fecundidade das obras, pois “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Deste modo, ao longo da história da Igreja podemos constatar que os verdadeiros apóstolos confiam muito mais nos sacrifícios e orações do que no mero desenvolvimento de suas atividades de apostolado.
São Boaventura ensina também que “O segredo do apostolado encontra-se aos pés do crucifixo, e não na ostentação de qualidades brilhantes”. São Bernardo exclama “Estas três coisas permanecem: a palavra, o exemplo e a oração; mas a maior das três é a oração”.
Por isso, o verdadeiro discípulo de Cristo sabe que a fecundidade do seu apostolado está no oferecimento dos seus sacrifícios e orações, do que no exercício de suas atividades. A oração é o fundamento da fecundidade das obras, e é isso que Jesus ensinou e quer nos ensinar. Pois tudo mais virá por acréscimo (Mt 6, 33). Além do mais, São Pio X ensina que:
Portanto, por diferentes motivos pode um discípulo empregar todos os seus esforços para realizar as obras de Deus, por mais retas intenções que tenha, e ainda assim, descuidar do mais importante, da sua vida interior. Certamente, existem muitas urgências e emergências na vida hodierna, no que diz respeito a evangelização, e estas preocupações podem absorver o discípulo de tal modo que não lhe sobre tempo para si mesmo, e isso seria sua ruina. E, estas atividades nem sempre constituem uma via que leva a conversão e a uma verdadeira vida cristã, pelo contrário, se traduzem em um ativismo pastoral estéril. Isto porque, prescindi de Deus, e o homem torna-se o centro da ação evangelizadora, com suas ideias, ações criativas e atitudes marcadamente egocêntricas.
Dado os desafios do tempo presente, é preciso que Deus seja tudo em todos. Cristo é o verdadeiro protagonista de toda e qualquer ação evangelizadora, o homem apenas o canal da graça. Deste modo, é preciso retomar a evangelização a partir de Deus, pois a vida interior é a verdadeira fonte de fecundidade das Obras de Deus.
Diácono Mario Cardoso