A cidade de Roma é marcada por história, arte, e quando chegam seus visitantes acabam esforçando-se para apreciar a tão famosa Capela Sistina. Nela estão pintadas as obras de arte mais famosas do mundo, cujo trabalho fora realizado por diversos artistas, mas o que mais se destacou ao longo dos séculos foi Michelangelo com a pintura do teto onde retrata “A criação de Adão”. Há de considerar que sua obra foi inspiração para muitos artistas ao longo dos séculos. Deste modo, percebe-se que existe um interesse universal das pessoas em querer conhecer estas obras de arte, pois são visitantes de todo o mundo que chegam à Roma para apreciar a Capela Sistina.
Em se tratando destas belas obras, o visitante ao contempla-las pode ser capaz ou não de captar a ideia desejada pelo artista. Neste caso, pode-se dizer que as pessoas poderiam ter entendimentos diferentes de uma mesma obra de arte; isso seria natural, pois determinadas obras exigem um olhar atento, sendo até mesmo necessários conhecimentos históricos para uma reta compreensão daquilo que o autor deseja transmitir.
Sendo assim, as pessoas podem ter uma visão diferente entre si da mensagem desejada pelo artista, o mesmo pode ocorrer com os cristãos que podem ter uma visão diferente entre si da pessoa de Jesus Cristo. Em ambos os casos, é importante que as mensagens sejam compreendidas na íntegra, sem distorções. Caso contrário, teriam uma compreensão falsa da realidade. É preciso, portanto, garantir que o Evangelho de Cristo seja anunciado de modo verdadeiro e sem distorções para aqueles que estão dentro e fora da Igreja. Por isso, é fundamental garantir que as pessoas tenham uma visão verdadeira de Jesus Cristo, tal como Ele é, e não uma visão desfocada, como pode ocorrer com uma pintura quando vista de um ângulo que prejudica sua contemplação, permitindo ter uma percepção errônea da obra.
Pensando no imperativo da missão da Igreja, confiado por Jesus Cristo: “ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). Dialogar com o mundo é tomar consciência de que existem três grupos de pessoas: aqueles que não conhecem Cristo; aqueles que conhecem Cristo de modo desfocado; aqueles que conhecem Cristo verdadeiramente. Certamente, a evangelização hoje tem seus desafios e será preciso então, fazer uso neste apostolado da filosofia. Visto que ela não é uma inimiga da fé, como dizia São João Paulo II:
A Igreja reconhece os benefícios que a filosofia trouxe ao longo dos séculos na compreensão da fé, principalmente a filosofia de São Tomás de Aquino que conseguiu dissolver a tensão que existia entre a razão e a fé. Pois para ele ambas proveem de Deus e não podem se contradizer. Recorrer à filosofia é ajudar as pessoas a desenvolverem sua capacidade de senso crítico, torná-las capazes de reconhecerem os males do tempo presente e de investigarem a realidade.
Deste modo, o desafio da Igreja será grande pois, assim como ela sofreu com as heresias, seitas e ideologias ao longo dos séculos e que juntas tiveram o propósito de dar uma visão errônea da realidade e da revelação Cristã, a razão humana sofreu com o ideal racionalista, niilista de certos filósofos, e também com a alteração da função da filosofia. O ideal racionalista empregou a ruptura com a revelação cristã e empobreceu a razão, ao impedi-la de utilizar os dados da fé para se chegar ao conhecimento da verdade, ao ponto de apontarem a fé como prejudicial e alienante para o desenvolvimento pleno do uso da razão. O ideal niilista, enquanto filosofia do nada, empregou a pesquisa científica como fim em si mesma, sem esperança nem possibilidade alguma de alcançar a meta da verdade. A filosofia por sua vez, teve sua função alterada na cultura moderna, donde passou de sabedoria e saber universal para um papel completamente marginal em muitas áreas do saber.
Diante dos fatos acima mencionados, é preciso, ao anunciar o evangelho, ter a consciência de que a fé e a razão ficaram reciprocamente mais pobres e débeis. Logo, não se pode pensar que, tendo hoje o homem a razão mais débil, que este será capaz de acolher a fé e ter uma visão correta da realidade, pois, corre-se o risco de a fé ser reduzida a um mito ou uma superstição. É como no caso da obra de arte, em que o artista deseja transmitir uma mensagem, mas o visitante não consegue compreende-la e por isso faz uma leitura distante do ideal do artista. É interessante notar que cada obra de arte em exposição possui uma breve explicação para auxiliar o visitante, assim também a filosofia deve ser esse instrumento capaz de ajudar a razão a restabelecer-se, para que então, a fé possa voar em direção ao transcendente e levar o homem ao encontro com Deus.
Portanto, a filosofia de Sto. Tomás precisa ser aplicada e cada vez mais estimulada na Igreja. Ele foi um homem que em seu tempo esteve aberto ao diálogo com todos, um verdadeiro apóstolo da verdade. A seu exemplo, é necessário também abrirmo-nos ao diálogo com todos, assim como, as obras de artes que estão dispostas para serem vistas por todos. Tendo por meio da filosofia ajudado o homem a desenvolver seu senso crítico e sua capacidade de buscar a verdade última de todas as coisas, propor-lhe a fé será o modo fecundo pelo qual o homem poderá enxergar a realidade tal como ela é, dispersando, de uma vez por todas, aquela visão desfocada da pessoa de Jesus Cristo.
Diácono Mario Cardoso