É preciso precaver-se não só contra os pagãos, os judeus e os hereges, mas também contra os maus cristãos.
Conserva tudo isso gravado no teu coração e invoca a Deus, em quem crês, que te guarde das tentações do diabo. Sê cauteloso para que se não insinue em ti o inimigo que, para o mal-intencionado alívio de sua condenação, procura descobrir companheiros com quem seja condenado.
Ele ousa tentar os cristãos não só por meio dos que odeiam o nome cristão e, lamentando que toda a terra esteja tomada por esse nome, desejam ainda servir como escravos aos ídolos e superstições diabólicas: tenta-os também, algumas vezes, através dos que a pouco lembramos, esses que cortados da unidade da Igreja como de uma videira podada são chamados heréticos ou cismáticos. Outras vezes, procura experimentá-los e seduzi-los por meio dos judeus.
Deus é paciente com eles porque, através do exercício de sua perversidade, confirma a fé e a prudência dos eleitos. E também porque muitos se tornam melhores e, condoídos das próprias almas, voltam com grande entusiasmo a agradar a Deus. E graças à paciência divina, nem todos acumulam ira para o dia da cólera do justo Juízo de Deus: muitos, a mesma paciência do Onipotente os conduz à mais salutar das dores, a da penitência.
Hás de ver muitos ébrios, avaros, trapaceiros, jogadores, adúlteros, fornicadores; verás a muitos que se atam com remédios sacrílegos, ou se entregam aos encantadores, astrólogos e adivinhos de quaisquer artes ímpias.
Hás de notar, ainda, que enchem as igrejas nos dias de festa as mesmas turbas que enchem os teatros nos dias solenes dos pagãos: e vendo-os, serás tentado a imitá-los.
Por que digo verás o que, já no presente, com certeza sabes?… Não ignoras certamente que muitos, que se dizem cristãos, praticam todos esses atos que em poucas palavras lembrei. E talvez não ignores que algumas vezes praticam faltas mais graves – esses mesmos que se chamam cristãos.
E, se vens com a intenção de despreocupado, praticar os mesmos atos, muito te enganas: de nada te servirá o nome de Cristo quando começar a julgar severamente Aquele que antes se dignara socorrer misericordiosamente.
Ele o anunciou e o diz no Evangelho:
A condenação é o fim de todos os que perseveram em tais ações. Quando vires, portanto, muitos não só as praticarem mas também defendê-las e aconselhá-las, conserva-te na Lei de Deus e não sigas os prevaricadores. Na verdade, não serás julgado segundo o sentimento deles, mas segundo a verdade dele.
REFERÊNCIA:
SANTO AGOSTINHO. A Instrução dos Catecúmenos. Trad. Maria da Glória Novak. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020.