Naquele tempo, 5algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas.
Jesus disse: 6“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7Mas eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?”
8Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.
10E Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu.
12Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé.
14Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós.
17Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 21,5-19)
Caros irmãos e irmãs,
Estamos prestes a concluir o ano litúrgico e bem às portas do tempo do advento, no qual iremos nos preparar para o Natal do Senhor e também para a sua segunda vinda. A primeira leitura (cf. Ml 3,19-20) e o Evangelho (cf. Lc 21,5-19) incidem no tema escatológico propício destes últimos domingos. A perícope evangélica nos oferece uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma que a antiga realidade desapareça e nasça um novo Reino. Esse caminho será percorrido com dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus.
O Evangelho nos traz uma profecia e uma promessa. A profecia é sobre o fim dos tempos. E a promessa é sobre como o Senhor recompensará todos aqueles que se mantiverem fiéis à sua Palavra. O evangelista São Lucas revela aos cristãos os acontecimentos que surgirão: “Haverá grandes terremotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; surgirão fenômenos espantosos e grandes sinais no céu” (v. 11). Estas palavras eram também usadas pelos pregadores populares da época de Jesus, para ressaltar a queda do velho mundo, ou seja, o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração; e também para ressaltar o surgimento de um mundo novo. A questão é, portanto, esta, no tempo intermediário entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o Reino de Deus irá se manifestando e nascerá um mundo novo: um mundo de esperança e de felicidade.
No tempo de Jesus era bastante comum a ideia de que o mundo antigo já estava muito corrompido e deveria desaparecer, para que pudesse surgir um mundo novo. Pensava-se que, na hora da passagem do mundo antigo para o novo, os homens seriam tomados por um grande pavor, os povos e as nações se envolveriam em tumultos, violências, doenças, calamidades e guerras.
Este modo de falar, estas imagens, chamadas de apocalípticas, eram comuns no tempo dos apóstolos. Também Jesus as usou para dizer aos seus discípulos que tinha chegado o tempo da passagem do mundo antigo para o mundo novo. Trata-se de imagens que indicam ao mesmo tempo anúncio de alegria e de esperança. Por esta razão, Jesus exorta aos seus discípulos: “Não vos assusteis” (v. 9). E pouco depois recomenda: “Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação” (Lc 21,28).
Este discurso de Jesus é sempre atual, também para nós deve ecoar esta exortação: “Prestai atenção para não serdes enganados. Muitos virão em meu nome” (v. 8). Trata-se de um convite ao discernimento. Com efeito, também hoje existem falsos pregadores, que procuram substituir-se a Jesus; personagens que desejam atrair a si as mentes e os corações. Jesus alerta: “Não os sigais!” (v. 8).
Os cristãos são advertidos para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo, até à segunda vinda de Jesus. Contudo, lembra que os fiéis não estarão sós, pois Deus estará sempre presente. Será com a força Divina que eles enfrentarão os adversários e resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão até resistir à dor pela traição de seus próprios familiares e amigos. As palavras de alento deixadas pelo evangelista São Lucas enfatizam a certeza de que Deus não abandona os seus filhos. É essa presença constante e amorosa do Senhor que lhes permitirá enfrentar as forças da morte. É essa força de Deus que levará os discípulos de Jesus a vencer o desânimo, a adversidade e o medo, permitindo renascer a esperança e a coragem para superar as adversidades do mundo presente. É o percurso que todos nós somos chamados a percorrer, até a segunda vinda de Jesus Cristo.
No meio de todos os desastres e perseguições, Deus está conosco: “Nem um só cabelo cairá de vossas cabeças. Pela vossa perseverança é que haveis de salvar-vos” (v. 18). Na alma verdadeiramente cristã jamais morre a esperança. Mesmo quando tudo parece obscuro, temos a certeza da presença sábia e misericordiosa de Deus.
O evangelista São Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós. Quando Lucas escreve este texto, tem bem presente a experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o martírio. As palavras de alento que ele aqui deixa – sobretudo a certeza de que Deus está presente e não abandona os seus filhos, devem constituir uma ajuda inestimável para esses cristãos a quem o Evangelho se destina.
O discurso escatológico do texto evangélico define, portanto, a missão da Igreja na história: dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.
No texto do Evangelho encontramos ainda a admoestação do Senhor: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos alarmeis; é preciso que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim” (v. 9). Como de fato, desde o início, a Igreja vive na expectativa orante da vinda do seu Senhor, perscrutando os sinais dos tempos e advertindo os fiéis de correntes religiosas, que cada vez anunciam a iminência do fim do mundo. Mas o fim do mundo para cada um de nós pode ser também a hora da nossa morte. Não falando quando isso acontecerá, Jesus queria ensinar que devemos estar sempre vigilantes e preparados.
Diante deste contexto pode surgir o perigo de um certo desânimo e a atividade diária do trabalho pode perder o sentido perante esta iminente segunda vinda do Senhor, por isto, alguns tessalonicenses estavam deixando o trabalho, para viver na ociosidade, “ocupados em não fazer nada” (2Ts 3,11), por esta razão adverte São Paulo na segunda leitura: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). São Paulo recorda o seu próprio exemplo de dedicação ao trabalho dia e noite, para não ser um peso para ninguém (cf. 2Cor 11,8).
O trabalho tem o seu valor e constitui uma participação da humanidade na ação criadora de Deus, a quem deve imitar, não só pelo trabalho em si, mas também pelo descanso, já que Deus apresentou ao homem a sua própria obra da criação sob a forma de trabalho e descanso (cf. Gn 2,2). E nisto encontramos um eco na oração do Pai Nosso e nas palavras de Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5,17).
Saibamos viver fielmente a nossa vocação cristã, não tenhamos medo de dar o bom testemunho de Cristo, para que possamos ser aprovados diante do juízo final. Nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Que o Senhor nos conceda a graça de vivermos a santidade que nos fará ganhar o reino de Deus, e que a nossa vida esteja sempre cimentada sobre uma fé firme e perseverante.
Possamos também nós aceitar convite de Cristo a enfrentar os acontecimentos quotidianos confiando no seu amor providente. Que Ele seja a nossa força e o nosso sustento perante as guerras e as revoluções, Não receemos o futuro, mesmo quando ele pode parecer de aspecto tenebroso. Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça de sermos portadores da esperança e que tenhamos sempre a coragem necessária para superarmos todas as dificuldades. Assim seja.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ