Naquele tempo, 2João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos, 3para lhe perguntarem: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?”
4Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”
7Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 😯 que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.
9Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. 11Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 11,2-11)
Caros irmãos e irmãs,
A liturgia nos direciona para o terceiro domingo do advento, chamado tradicionalmente domingo “Gaudete”, por causa da palavra latina com que começa o canto de entrada da Santa Missa, de acordo com o Graduale Romanum: “Gaudete in Domino semper: íterum dico, gaudete!”. Uma exortação de São Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor: de novo eu vos digo: Alegrai-vos! (Fl 4,4-5). O tema da alegria também aparece na oração da coleta: “Chega às alegrias da salvação…”; e na oração a ser feita após a comunhão: “Que estes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos preparem para as festas que se aproximam”. A Igreja nos faz este convite à alegria, enquanto nos preparamos para celebrar o Natal do Senhor.
O Evangelho nos apresenta a figura de João Batista, que se encontra preso em uma fortaleza, às margens do Mar Morto, onde morrerá decapitado por ordem do rei Herodes, a quem João reprovava pelo fato de estar vivendo com a mulher de seu irmão Filipe. João Batista, tendo ouvido falar, no cárcere, a respeito das obras de Cristo, quer esclarecer uma dúvida e envia a Jesus dois de seus discípulos com esta pergunta concreta: “És tu aquele que deve vir ou temos que esperar um outro?” (v.3).
As severas imagens utilizadas por João em sua pregação, tendo como objetivo levar o povo à conversão, não pareciam estar associadas com a atuação de Jesus, cuja conduta mostrava a compaixão e a misericórdia para com os pecadores. João Batista quer uma resposta para sua dúvida pessoal, mas, ao mesmo tempo em que ele envia emissários para interrogar Jesus, porque quer, antes de sua morte, dar um ensinamento melhor a seus próprios discípulos sobre Jesus.
Com a sua resposta, Jesus se define, indiretamente, como o Messias, pelas obras que realiza. As curas que são anunciadas tanto na primeira leitura como no Evangelho são sinais messiânicos da presença de Deus na pessoa de Cristo, em quem se realizam as profecias do Antigo Testamento. As mesmas obras de Cristo que causam perplexidade a João se tornam a resposta afirmativa da messianidade de Jesus: “Os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Jesus responde com um magnífico testemunho de João Batista. Jesus o elogia, testemunhando a validade de sua personalidade espiritual, pelo seu estilo austero (vv.7-8), que o legitima como o maior dos profetas (v.9), precursor do Messias (v.10) e maior dente os nascidos de mulher (v.11).
Na verdade, Jesus realiza a profecia de Isaías na qual a boa nova da salvação passa pela vitória do homem sobre a morte, a pobreza e a doença mediante a visita histórica de Deus à terra. Nosso olhar para o advento de Cristo na história dos homens, marcados pelo sofrimento, nos motiva a considerar o conteúdo do evangelho como o sinal da salvação que traz alegria.
Alegria porque também muito em breve estaremos celebrando o Natal do Senhor! Uma celebração que, por si só, nos remete à alegria, já manifestada no momento da anunciação do anjo a Maria: “Alegra-te, cheia de graça, porque o Senhor está contigo” (Lc 1,28). A causa da alegria em Maria é a proximidade de Deus. E João Batista, ainda não nascido, saltará de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Menino Jesus, o Messias que está para chegar (cf. Lc 1,41).
E o anjo dirá aos pastores, homens simples que vigiavam o rebanho durante a noite: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (Lc 2,10). E acrescenta: “Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Um salvador que o povo esperava era o Messias. Para eles o anúncio do nascimento do Salvador foi causa de alegria. E em meio a tantas luzes que dissipam as trevas, podemos também lembrar de uma passagem do livro do profeta Isaias que diz: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). E o mesmo profeta Isaías exulta de alegria ao anunciar: “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Is 9,5).
Neste terceiro domingo de Advento, a Liturgia da Palavra nos propõe ainda, como segunda leitura, um trecho da Carta de São Tiago, que inicia com esta exortação: “Sede, pois, pacientes, irmãos, até à vinda do Senhor” (Tg 5, 7). É importante, ressaltar o valor da constância e da paciência, virtudes que nos auxiliam na capacidade de se adaptar a situações sempre novas e diversas.
Podemos dizer que a paciência é a capacidade de suportar os incômodos e as dificuldades de toda ordem. É a capacidade de persistir numa atividade difícil, ser perseverante, de esperar o momento certo para certas atitudes, de aguardar em paz a compreensão que ainda não se tenha obtido, capacidade de ouvir alguém, com calma, com atenção, sem ter pressa, capacidade de se libertar da ansiedade. A tolerância e a paciência são fontes de apoio seguro nos quais podemos confiar. Ser paciente é ser educado, ser humanizado e saber agir com calma e com tolerância. A paciência também é uma caridade quando praticada nos relacionamentos interpessoais.
O apóstolo São Tiago trata da vinda do Senhor e exorta o povo à paciência, cheia de esperança pelo retorno iminente do Senhor (vv.7-8) à semelhança do agricultor que espera o fruto da terra, aguardando pacientemente a vinda das chuvas (v.7) e tendo como exemplo o sofrimento e a paciência dos profetas (v.10).
A comparação com o trabalho do agricultor é muito expressiva: Quem semeou no campo, tem diante de si alguns meses de espera paciente e constante mas sabe que a semente, entretanto, realiza o seu percurso, graças à chuva. O agricultor é modelo de uma mentalidade que une de modo equilibrado a fé e a razão, porque, por um lado, conhece as leis da natureza e realiza bem o seu trabalho e, por outro, confia na Providência, porque ele acredita em Deus.
Esta é a razão pela qual podemos prosseguir nosso itinerário com alegria, como nos exorta o apóstolo Paulo: “Irmãos, andai sempre alegres” (1Ts 5,16). Devemos estar alegres, porque a nossa salvação já está próxima. O Senhor vem! Com esta consciência empreendemos o itinerário do Advento, preparando-nos para celebrar com fé o extraordinário acontecimento do Natal do Senhor.
Esta confiança gera na pessoa que encontrou o Cristo uma serenidade e uma alegria que ninguém e nenhuma situação podem tirar. Santo Agostinho, na sua busca da verdade, da paz, da alegria, depois de ter procurado em vão a felicidade em múltiplas situações, conclui dizendo que o coração do homem está inquieto, enquanto não encontrar tranquilidade e paz, enquanto não descansar em Deus (cf. S. AGOSTINHO, Confissões I,1). A verdadeira alegria é um dom, nasce do encontro com Jesus, pela oração e pela observância dos seus ensinamentos.
Vigilantes na oração, procuremos preparar o nosso coração para acolher o Salvador que virá para nos mostrar a sua misericórdia e o seu amor. A Virgem Maria nos ajude a apressar os nossos passos em direção a Belém, para encontrar o Menino que vai nascer, para a nossa salvação e para a nossa alegria. Que Ela nos obtenha viver a alegria do Evangelho em família, no trabalho e em todos os ambientes. Assim seja.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ